Amor Apaixonado

— Reflexãopara um dia de maio
IMAGINO MARIA, APÓS A PARTIDA DO ANJO. O silêncio à sua volta, a agitação em seu interior. Grávida! Grávida de Deus! Todas as profecias sobre o Messias passando em sua cabeça, um misto de alegria e medo, mas, lá no fundo, prevalecendo sobre tudo, um sentimento de entrega, de oferta, de confiança.
No coração de Maria, começava a ser gerado o Magnificat.
A minha alma engrandece o Senhor e o meu espírito exulta de alegria em Deus, meu salvador...
O SIM de Maria trouxe muitos problemas. Como dizer a José? Como explicar a ele o que não tem explicação? E as pessoas da família, os vizinhos e amigos? Mais uma vez o silêncio e a entrega. Não era fuga ou alienação. Entrega no sentido mais radical.
Ele olhou a humildade de sua serva e todas as gerações me chamarão bem-aventurada, porque fez grandes coisas em mim o Onipotente, Santo é o seu nome.
Maria grávida de Deus é a mais bela tradução de oração que consigo imaginar. Nos seus silêncios e na sua solidão, ela nunca mais esteve só. Estabeleceu-se uma comunhão tão perfeita, que dispensava grandes explicações. Maria, simplesmente, guardava as coisas no seu coração. Um coração que não se isolava, mas estava sempre atento às necessidades do outro, como nas Bodas de Cana. Maria é aquela que, tendo Deus em si, percebe onde ele faz falta...
Exaltou os humildes... aos que tinham fome, encheu de bens...
Maria gerou Jesus para si e para os outros. Isso é oração. Comunhão que gera amor, amor que se multiplica em amor por tudo e por todos. Oração é apaixonar-se pela criação de Deus em mim e à minha volta. A oração que não leva o Homem a apaixonar-se por Deus é mero exercício intelectual.
Oração é acolher no coração a paixão de Deus por suas criaturas. Sim, pois Deus apaixonou-se perdidamente, loucamente por suas criaturas. Quando contemplo a natureza, quando percebo em meu corpo os pequenos toques da alegria que está presente no encontro com o amigo, na paixão adolescente renovada na maturidade, no compromisso com aqueles a quem foi roubada a dignidade... percebo a presença de um Deus apaixonado.
Acolheu seu servo Israel, lembrado da sua misericórdia (e do seu amor),como havia falado aos nossos pais,em favor de Abraaão e de sua descendência... para sempre!
Maria compreendeu em seu coração, que a oração é deixar-se atrair por um Deus sedutor e permitir que seu amor invada todos os recanto dos nossos afetos, sonhos e desejos fazendo deles, os afetos, sonhos desejos do mundo.
Deus, em Jesus, assumiu nossa história num ato de amor que só se permite aos que vivem grandes paixões. A Encarnação é a certeza de amor apaixonado de Deus por suas criaturas. Nela, o divino invade o humano sem violentá-lo e mostra, a cada um de nós, as imensas possibilidades que temos, quando somos movidos pela fé, pela esperança e pelo amor.
Mas de tudo, o mais importante é o amor... amor apaixonado...
Eduardo Machado (do Jornal Opinião)

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