Pe. Zezinho comenta "O Código Da Vinci"
É um livro e um filme que vendeu mais do que sorvete no verão. Por ossos do ofício de professor e escritor católico, li o livro e três outros sobre ele, dois contra e um a favor. O escritor inglês, de menos de 40 anos, Dan Brown conseguiu o que todo o escritor sonha. Chegou lá. Suscitou polêmica e está vendendo a rodo. Não importa quantos livros se escreverão contra o dele, marcou seus pontos. É do seu livro que o mundo vai falar por muito tempo.

Há um tipo de católico que nunca leu nenhuma biografia de santo, nenhum documento oficial, não leu nenhuma encíclica de qualquer papa que fosse, jamais abriu o catecismo, não leu nem lê a Bíblia, não assina revistas católicas, não vê programas católicos, mas quando vê o tal livro que diz que Jesus casou com Madalena e que existe um tal cálice sagrado em algum lugar do planeta, vai compra, lê e concorda e passa a defender o escritor. Nunca quis saber do resto, e teria dificuldade de lembrar os rudimentos do catecismo de sua primeira comunhão, mas fala do livro como se, agora, sim, a verdade tivesse aparecido. Não pode ser levado a sério. Afirma-se, mas não é católico.
Há outro que sabe religião, mas também não tem visão abrangente da fé. Ficou na sua fé tangencial ligada a determinado movimento e também ele não lê História, nem Dogmas, nem Moral Católica, nem leu as encíclicas nem conhece o pensamento da Igreja. Limita-se aos livros de piedade do seu movimento. Ele descarta o livro com palavras nada agradáveis e o picha sem nunca ter lido. E não lê, porque seu mentor disse que o livro é do demônio e dele não deve ser lido por um católico. Se não leu, não deveria falar do que não conhece.
Há o outro que conhece os principais livros do catolicismo e tem uma noção bem clara dos acertos e erros dos católicos. O livro de Dan Brown não o assusta e em muitos casos até leva ao riso. Dan Brown inventa fatos para provocar a autoridade da Igreja Católica, como o comediante inventa piadas para rir da autoridade do seu país. Dan Brown não é sério. Passa pela História como o falso entomólogo que foi procurar um tipo de inseto e, não o achando, descreve os bichinhos que achou parecidos com o seu inseto como se fossem ele. E daí? Afinal 99 entre 100 leitores não irão consultar nem verificar se é verdade o que ele afirma em forma de narrativa exótica e esotérica.
Além deles, há o evangélico sereno que também ri do livro e também o seu irmão mais aguerrido que acha Dan Brown maravilhoso porque afinal desmascara a Igreja Católica. Se fosse um livro contra a sua Igreja, ele não leria e o proclamaria do diabo, mas como é contra os católicos ele lê e confirma, sem também se dar ao trabalho de consultar os fatos.
Diante desse tipo de livros, que contestam os papas, a Igreja Católica, e os vinte séculos de história de Cristo e dos cristãos a maioria dos leitores em geral não procura explicação. Vale pela contestação. Finalmente, alguém está pondo os pingos nos is. Só que tem que não é pingo, nem os colocou nos is e sim onde lhe interessou colocar.
Como sacerdote católico sei que minha Igreja teve pessoas, atitudes e situações altamente condenáveis e questionáveis no passado. Mas teve também muitos grandes santos e grandes santas que não aparecem como tais no sectário livro de Dan Brown. Desafio qualquer religião com tanto tempo de existência, que não passe ou não venha a passar por isso, posto que religiões não são feitas de anjos. Outros santos de outras religiões também mandaram matar e massacrar em nome de Deus. Quem leu o Antigo Testamento e o Alcorão sabe onde e quem defendeu a violência contra gente de outras religiões, ou contra os que erraram.
O escritor Dan Brown lança suspeitas, não prova e não se explica, Afinal, ele não veio para isso. É um escritor que pesca diamantes em águas turvas. Suja a água e espera que as pessoas venham procurar com ele as verdades escondidas naquelas águas turvas, O ingresso é o preço do seu livro. Eles ficam com as discussões e as dúvidas e o jovem Mister Brown com o lucro. Afinal, não é o primeiro, nem será o ultimo livro dele. Tem cultura suficiente para abordar qualquer assunto e misturar os fatos como alguém embaralha cartas. Quem não conhece baralho, cai no seu truque. Quem leu os mesmos livros que ele leu e os que ele nunca leu nem lerá, sabe com quem esta lidando.
Ele chega aos quarenta anos como um fenômeno de mercado, consagrando-se como mestre da controvérsia. Que os outros provem que ele está errado. Ele provou que sabe vender livros e semear dúvidas. Tem milhares de religiosos que o odeiam, sem jamais ter lido seus livros, e milhares de leitores que o admiram e que jamais lerão os livros que ele deturpou. Papel aceita tudo. Livrarias e editoras, não. Elas só aceitam o livro que vende, mesmo que minta e deturpe... Provavelmente vai virar filme. E as caixas registradoras outra vez tilintarão. Outra vez muita gente vai discutir sobre o que não leu, não viu e não pesquisou, mas aceita porque Dan Brown falou que é! Seu livro deu certo e ele virou um ídolo, porque ousou questionar. Mas ai de quem questioná-lo! As pessoas vão continuar acreditando que quem vende milhões de livros está certo e quem nunca escreveu nem vendeu está errado. Vale a quantidade e o sucesso, não necessariamente a verdade! É o tipo de sociedade que criamos. Vale mais o grau de exposição na mídia do que o conteúdo! É... Pois é!
Pe. Zezinho
Fiquem na paz!
sua irmã,
Maria Daisy
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