OS 7 PECADOS CAPITAIS (parte 4)


5. Gula: comer demais, mesmo sem ter fome. Quando já nos saciamos, mas continuamos “mandando comida para dentro”, apenas por prazer, é sinal de que o ato de comer tornou-se vício. Muita gente não se dá por satisfeito enquanto não sentir, literalmente, a barriga estufar; comem quase até passar mal. Além de prejudicial à saúde e levar a obesidade, este hábito é um grave pecado diante de Deus. Veja Filipenses 3,19; Isaías 5,11.

O sentido que está por trás da gula é o de estar funcionando abaixo das potencialidades, buscando sempre uma compensação pelo que acredita não se ter 

Ansiedade e comida
A ansiedade também pode gerar a busca compulsiva pela comida. Apesar de ser uma resposta normal ao perigo físico - e pode ser uma ferramenta útil para concentrar a mente, quando há o fim de um prazo que se aproxima - a ansiedade se torna um problema quando ela persiste muito além da ameaça imediata e passa a ser um traço da personalidade, onde tudo gera ansiedade. Quando os sintomas como: preocupação descontrolada, inquietação, irritabilidade, apreensão, tensão muscular e problemas de concentração se tornam persistentes, afetando os hábitos e padrão de vida comum é chamado de Transtorno de Ansiedade Generalizada - TAG.

No sentido literal, gula é o excesso de comer e beber, na sua simbologia maior significa voracidade: que devora e destrói. Entendendo essa simbologia, podemos relacionar que ao devorar o alimento compulsivamente, tenta-se, ainda que inconsciente, destruir o que está dentro. Agindo assim, sente culpa e se pune por ter perdido o controle, formando assim um círculo vicioso: come em excesso para fugir do que sente, culpa-se por isso, se pune comendo mais.

Gula intelectual
A característica da gula é engolir e não digerir. Quantas vezes não digerimos o que nos acontece e simplesmente engolimos? Geralmente está associada à comida e à bebida, mas também pode ser entendida como gula intelectual inclusive. O sentido que está por trás da gula é o de estar funcionando abaixo das potencialidades, buscando sempre uma compensação pelo que acredita não se ter. A sensação é de não estar fazendo tudo que o potencial permite, vivendo sem atender expectativas. A atitude mental básica é: necessito aprender tudo. Essa característica pode levar à necessidade de monopolizar, desejando o poder cada vez mais para si. 

Gula nas organizações
Um exemplo da gula nas organizações é quando se compram equipamentos de última geração desnecessariamente ou quando os gestores centralizam o processo decisório e as informações. Ou ainda, a gula pelo poder, evidenciando um líder centralizador, que não confia ou que não quer confiar em sua equipe, porque na verdade, não confia em si mesmo e em seu potencial. Todas as decisões têm que partir dele, que precisa estar a par de todas as informações que saem do setor. Até os documentos mais banais têm de ter sua assinatura ou visto. A equipe passa a não decidir e fazer questão de não decidir nada. Todos os trabalhos são incompletos, pois o líder ainda dará a opinião final. Então, é inútil concluí-los. A gula pode influenciar tanto nos relacionamentos quanto na produtividade das pessoas.

O mais indicado para evitar os excessos que a gula pode gerar é descobrir que situações o levam a cometê-los, identificando as situações e lidando com cada uma delas. Não negue, nem faça que não está sentindo nada. Para obter o controle sob suas emoções é preciso aceitar o que está sentindo, assim ficará mais fácil identificá-la. É importante também reconhecer cada conquista e manter sua mente no presente que assim o resultado virá naturalmente.

6. Inveja: é quando queremos ter algo igual aquilo que o nosso próximo possui, mesmo que não exista a necessidade, só para que não nos sintamos inferiores. Pior ainda, é desejar o mal para uma pessoa que tenha algo que nós não temos, seja sua beleza, habilidade, amizades, emprego, bens materiais, etc. Veja em Sabedoria 2,24; Gênesis 4,1-16; 37,4; Mateus 20,1- 16; 1Samuel 18,6-16.

A inveja é uma das emoções mais primitivas e geralmente negada por todos. Por que o que o outro tem se torna alvo do que queremos ter? Por que o referencial do que devemos ter está sempre no outro e raramente dentro de nós? Somente na reflexão sobre a inveja é que teremos consciência deste sentimento na nossa vida e poderemos aprender a lidar com ele em nosso comportamento. Qual será o mecanismo básico que nos move para a inveja?

Este mecanismo, responsável pelos nossos ressentimentos é o mecanismo da comparação. Nunca haverá inveja sem que antes tenha havido uma comparação. Entristecer-se sinceramente com o sofrimento de alguém não é difícil, porém manifestações exageradas de dor pela dor de alguém, pode encobrir, ainda que seja inconfessável, uma certa satisfação.

É muito difícil, e podemos perceber isso nas conversas informais, o quanto incomoda algumas pessoas quando contamos algo de bom que nos aconteceu, mas é só começar a contar uma tragédia que muitos outros se interessam. Os altos índices de audiência dos programas de televisão sobre a desgraça alheia confirmam esse interesse.

Inveja: tristeza pelo bem alheio ou alegria pelo mal do outro?
A inveja não é só tristeza pelo bem alheio, mas alegria pelo mal do outro. É um sentimento de inferioridade, fruto da comparação que fazemos entre nós e o outro em algum aspecto específico: ou nas posses materiais, na casa, no carro, na roupa, no dinheiro ou nas suas qualidades psicológicas, morais, físicas, sociais ou espirituais. Ao nos sentirmos menores do que os outros, nos aumentamos, nos vangloriamos, nos enaltecemos para evitar o mal-estar do desequilíbrio. Falamos excessivamente bem das nossas próprias coisas e, ao mesmo tempo, procuramos diminuir o outro através de crítica.

Quando criticamos alguém, quando diminuímos, ofendemos, quando temos necessidade de falar mal de alguém, provavelmente estamos nos sentindo inferiores a ele. A inveja é a incapacidade de ver a luz das outras pessoas, a alegria, o brilho, a luminosidade de alguém, seja em que aspecto for, porque na verdade, não se percebe ter essa mesma luz.

O que há de negativo na inveja é a rejeição em algum momento do seu próprio tamanho, a sua incapacidade de acreditar ser capaz de também conseguir.

'Olho gordo' é outro nome para a inveja
Desde criança ouvimos falar que não devemos contar algo de bom que está para nos acontecer antes que esteja tudo muito certo, o famoso ´olho gordo". Essa crença antiga permanece até hoje e nasce de uma longa observação popular. O 'olho gordo' é outro nome para a inveja. Popularmente, 'o olho gordo', é um olho que atrapalha, faz mal, danifica.

O principal prejudicado na inveja não são os outros, mas nós mesmos, pois é destrutiva, não produz mudanças, diminui a auto-estima, destrói o crescimento pessoal, fazendo com que o invejoso se contamine de ódio. O invejoso se utiliza muito da projeção, tornando más as pessoas que são boas, onde as qualidades do indivíduo invejado ficam perdidas porque não são percebidas, colocando todos os sentimentos ruins naquele que é objeto de sua inveja.

O mal não é sentir inveja, mas cultivá-la

O mal não é sentir inveja, o mal é cultivá-la. A inveja é má, pois engendra o ódio que é destrutivo, pois destrói o próprio indivíduo e a sociedade. Não seria uma virtude espontânea e natural no homem, mas uma atitude derivada do ressentimento e do ciúme, do rancor e da indignação pela má sorte de alguns perante os outros.

A falta de confiança e de segurança em si mesmo, unida a um invencível sentimento de impotência colabora para acentuá-la.

7. Preguiça: pecado que acontece quando temos tempo e saúde a nossa disposição, mas não fazemos coisas boas e úteis, apenas pelo “prazer de fazer nada”. – Não é pecado o justo descanso nem o tempo empregado no lazer e no relaxamento físico e mental, mas sim o ato de se desperdiçar sistematicamente as oportunidades que recebemos para realizar coisas boas para a nossa vida e/ou para as vidas dos nossos próximos. Preguiça está relacionada ao desânimo, à apatia, à indolência, ao desleixo; é um desejo crônico de “descansar”, mesmo que não se esteja cansado. Veja em Eclesiástico 33,28-29; Provérbios 24,30-31; Ezequiel 16,49; Mateus 20,6.
A preguiça é a pouca ou falta de disposição ou aversão ao trabalho, demora ou lentidão para fazer qualquer coisa. É o tédio ou a tristeza em relação aos bens interiores e espirituais. É um aborrecimento natural pelo trabalho no dia-a-dia, se o mesmo não tiver seu esforço recompensado.

Este sentimento faz com que as pessoas desqualifiquem os problemas e a possibilidade de solução. A preguiça não se resume na preguiça física, mas também na preguiça de pensar, sentir e agir. A crença básica da preguiça é "Não necessito aprender nada", levando a um movimento limitador das idéias e ações no cotidiano e traduzido pelo "deixa para depois". A origem da palavra vem do hebraico: atsêl, que pode ser traduzida por lentidão ou indolência. A preguiça é considerada pecado mortal ao se opor diretamente ao amor a Deus.

A característica básica da preguiça pode ser encontrada em pessoas que freqüentemente adiam compromissos, decisões, projetos, mudanças, ou até simples afazeres rotineiros, comprometendo o resultado desejado, com a justificativa de que não houve tempo, ou que irá realizar outro dia, mas que na verdade, tentam ocultar uma insegurança exagerada em sua própria capacidade de agir. Utilizam-se do desânimo, esquecimento, como estratégia para fugir da necessidade de arregaçar as mangas e enfrentar a parte que lhes cabe realizar na vida. É como se sentissem imobilizadas perante à vida.

CONSIDERAÇÕES FINAIS:
Todos essa série sobre 'Os Sete Pecados Capitais' foi baseada na lista de São Tomás de Aquino que explica o quanto é importante conhecer nossos instintos mais primitivos, nossa sombra como diz Jung, o lado escuro que todos nós temos, mas que é possível através da conscientização e do autoconhecimento, colocar luz onde só era escuridão.

Os "pecados" contêm a possibilidade de se desencadear em outros tantos pecados, daí serem chamados capitais e se fundamentam em algum desejo natural e instintivo. Podemos encontrar cada um dos pecados em nossas relações diárias e em nós mesmos. É preciso conhecer cada pecado e não reprimi-los, pois só assim conseguiremos compreender e transformá-los. Vamos a um breve resumo de cada um deles:

Inveja: produz ódio e destruição, onde a pessoa nega o valor do outro e em conseqüência o próprio valor, mas pode ser transformada em impulso para a busca de querer não o que o outro tem, mas acreditar ser capaz de buscar o que quer para si e valorizar tudo o que tem.

Ira: é a raiva ou o ódio, com perda do controle. É uma emoção totalmente destrutiva tanto para quem a sente como para quem se torna objeto dela, fazendo a pessoa agredir a todos, quando na verdade está agredindo a si própria. É preciso identificar a emoção que foi mobilizada e controlar a agressividade através da razão.

Gula: é o excesso no comer e beber, mas também pode ser entendida como gula intelectual. Na sua simbologia maior significa voracidade. Pode ser entendida como uma forma de fuga de muitas outras dificuldades ou ainda, dos próprios sentimentos. Para ser transformada, é preciso desenvolver a busca pelo equilíbrio não só através da comida, mas também do conhecimento.

Avareza: significa excessivo e sórdido apego ao dinheiro, com grande medo de faltar, uma percepção de escassez. É uma falta de contato com o mundo interno, gerando uma busca incessante por tudo que é externo. Também é citado por alguns autores o termo vaidade.

Soberba: leva o homem a desprezar os superiores e desobedecer as leis. É o desejo distorcido de grandeza. A pessoa que manifesta a soberba atribui apenas a si próprio os bens que possui. Esse pecado tem relação direta com a ambição desmedida pelo poder e o orgulho exagerado. É preciso desenvolver a humildade e principalmente a consciência do próprio valor enquanto pessoa, independe de posição ou aquisição. Alguns autores usam o termo orgulho; outros, cobiça.

Luxúria: é o apetite sexual insaciável, com exclusiva satisfação física. Pode representar uma fuga do amor, da intimidade e do compromisso e ser transformada se houver a possibilidade de troca, valorizando o sentimento, a intimidade, cumplicidade, que não podem ser desenvolvidos em relações rápidas e superficiais. 

Preguiça: é entendida como lentidão ou falta de vontade em fazer algo; pode também demonstrar uma falta de confiança em si mesmo. 

Todos os pecados têm em comum a busca da satisfação no mundo externo, onde se procura compensar a falta de amor-próprio e a necessidade profunda e inconsciente de fugir dos próprios sentimentos. A percepção de cada um dos pecados em nossos comportamentos e dos consequentes conflitos gerados por eles nos relacionamentos pode sinalizar a necessidade de um esforço consciente e racional de mudança.

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Ref. bibliográfica:

BURNS, John E. Recuperando-se com os Sete Pecados Capitais, Loyola: São Paulo, 2004.



Fique na paz!
sua irmã,
Maria Daisy

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